A mobilidade no emprego, designadamente a mobilidade entre diferentes profissões, é uma temática cada vez mais relevante no panorama de um mercado de trabalho em transformação. Nos dias de hoje, e cada vez mais no futuro, a capacidade dos trabalhadores se adaptarem a novos contextos laborais e profissões é fundamental para manterem as suas perspetivas futuras de emprego e para progredirem nas suas carreiras profissionais.
O que sabemos sobre a mobilidade entre profissões em Portugal?
Para responder a esta questão, a metodologia utilizada assenta na análise da mobilidade entre profissões verificando, para cada profissão disponível no Brighter Future, se a profissão que o trabalhador desempenhava num determinado ano é a mesma ou diferente da que desempenhava dois anos depois.
Mais de 1 em cada 7 trabalhadores muda de profissão ao fim de 2 anos
Os dados mais recentes indicam que, em 2022, 15,5% dos trabalhadores se encontravam numa profissão diferente da que desempenhavam dois anos antes, em 2020. A grande maioria dos trabalhadores – 84,5% – manteve-se na mesma profissão. Isto não impede que possam ter mudado de empresa ou transitado entre profissões mais detalhadas, dentro das profissões do Brighter Future. Por exemplo, um ‘Programador de software’, pode ter sido um ‘Analista de Software’ em 2020 e um ‘Programador de software de aplicações’ em 2022, ambas profissões detalhadas que fazem parte da profissão ‘Programador de software’. A percentagem de trabalhadores que muda de profissão tem variado ao longo da última década e, de um modo geral, tem acompanhado o ciclo económico. Em tempos de recessão económica e incerteza, há menos criação de emprego e os próprios trabalhadores tendem a correr menos riscos no mercado de trabalho. Assim, não é de estranhar que, entre 2010 e 2013, período de recessão provocado pela crise do subprime, tenha havido uma queda da proporção de trabalhadores que mudaram de profissão dois anos depois: de 15,5% em 2010 para 11,9% em 2013. Desse ano em diante, a mobilidade entre profissões aumentou paulatinamente situando-se, em 2017, num nível superior ao registado em 2010, antes da crise financeira.
Nos anos seguintes, a mobilidade entre profissões voltou a decrescer, a percentagem de trabalhadores que mudaram de profissão em 2021 face à que desempenhavam 2 anos antes foi de 14,4%, um valor 2 pontos percentuais abaixo dos 16,4% de trabalhadores que mudaram de profissão entre 2017 e 2019. Mais recentemente, após a crise pandémica, a mobilidade voltou a uma trajetória de crescimento com a proporção de trabalhadores com uma profissão diferente em 2022 face à que desempenhavam em 2019 a aumentar para os 15,5%, um dos valores mais elevados da última década.
Proporção dos trabalhadores com uma profissão diferente 2 anos depois
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE. (1)
Em que tipo de ocupações há uma maior ou menor mobilidade entre profissões?
O nível de mobilidade entre profissões pode variar consoante a complexidade e o nível de competências requeridas pelas profissões. Para aferir este ponto, recorre-se à Classificação Portuguesa das Profissões que divide as profissões em 9 grupos de acordo com o nível de competências e educação que se espera dos trabalhadores (2).
Estes dados revelam que os maiores níveis de mobilidade se encontram no grupo dos ‘Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta’ (23,9%) e dos ‘Trabalhadores não qualificados’ (22,5%) que agrega as profissões menos qualificadas e que exigem um baixo nível de competências.
No sentido inverso, os menores níveis de mobilidade entre profissões são registados em grupos ocupacionais de competências muito distintas.
Por um lado, nos ‘Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices’ (12,3%) e ‘Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores de montagem’ (10,9%), ambos grupos ocupacionais de competências intermédias.
Por outro, nos grupos ocupacionais mais qualificados com profissões de topo de carreira: ‘Especialistas das atividades intelectuais e científicas’ (14,7%) e os ‘Representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos’ (14,2%).
Proporção dos trabalhadores em 2020 que mudou de profissão 2 anos depois, em 2022, por grandes grupos ocupacionais
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE. (1) (2)
Quais as profissões do Brighter Future com mais mobilidade?
Em termos agregados, a proporção de trabalhadores que mudaram de profissão entre 2020 e 2022 foi de 15,5%. Mas há algumas profissões em esse valor é muito superior. Nas profissões seguintes, mais do que 28% dos seus profissionais, em 2020, tinham outra profissão em 2022:
A maioria das profissões com maior mobilidade podem ser classificadas em dois grupos: profissões com salários médios mais baixos, que não exigem uma formação específica e com perspetivas de evolução da carreira mais escassas, e as profissões que têm em comum uma forte componente tecnológica e cujo emprego aumentou substancialmente nos últimos anos.
Quais as profissões do Brighter Future com menor mobilidade?
No lado oposto, encontram-se profissões onde a transição para outras profissões é extremamente baixa. Nas profissões seguintes, a proporção de pessoas ao serviço que mudaram de profissão entre 2020 e 2022 foi inferior a 5,5%:
Em geral, estas profissões têm salários superiores à média, requerem qualificações elevadas e competências muito específicas. Algumas delas são profissões com uma progressão de carreira já definida, pelo que a possibilidade de progredir facilmente para outras profissões é mais limitada (por exemplo: ‘Médicos’, ‘Pilotos de Aeronaves’ ou ‘Enfermeiros’).
Nota Metodológica:
Para a elaboração do presente Insight recorreu-se aos dados dos Quadros de Pessoal que resultam de um inquérito anual obrigatório a todas as empresas do setor privado e do setor empresarial do Estado com pelo menos um trabalhador por conta de outrem e que está a cargo do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (GEP/MTSSS), sendo que estes dados foram posteriormente tratados pela Fundação Belmiro de Azevedo.
(1) São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais. Para a análise da mobilidade entre profissões (nos 2 anos seguintes) foram considerados apenas os indivíduos que se encontram, simultaneamente, em ambos os períodos temporais (t e t+2).
(2) De acordo com a Classificação Portuguesa de Profissões (CPP/2010), as profissões podem ser divididas em 9 grandes grupos ocupacionais: ‘Representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos’, ‘Especialistas das atividades intelectuais e científicas’, ‘Técnicos e profissões de nível intermédio’, ‘Pessoal administrativo’, ‘Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores’, ‘Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta’, ‘Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices’, ‘Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem’ e ‘Trabalhadores não qualificados’.