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COVID-19: os perfis mais e menos vulneráveis à crise no mercado de trabalho
As transições no mercado de trabalho dependem de fatores demográficos e dos setores de atividade em que trabalham. Vê quais são os fatores que mais determinam a probabilidade ficar desempregado ou encontrar emprego antes e durante a pandemia.
PUBLICADO A 17/07/2021
AUTOR FJN
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A magnitude do impacto do Covid-19 no emprego e desemprego está relacionado com fatores como a idade e o nível de escolaridade.
No entanto, estes fatores estão também relacionados entre si e com outros relevantes. Por exemplo, a proporção de diplomados do ensino superior é maior nas gerações mais jovens e nas mulheres. Além disso, não é de menosprezar o papel do setor de atividade, uma vez que as restrições à atividade económica decorrentes do confinamento do segundo trimestre de 2020 e a abertura faseada ocorrida posteriormente, tiveram uma base de discriminação setorial explícita, com mais entraves à mobilidade e à abertura dos serviços de proximidade.
Tendo em conta fatores demográficos e os setores de atividade, o que influencia mais o risco de ficar desempregado e a probabilidade de voltar a encontrar emprego? E como é que a pandemia afetou a importância destes fatores?
O risco de ficar desempregado aumentou e a probabilidade de encontrar emprego diminuiu para todos
A pandemia diminuiu os fluxos de transição para o emprego para quem estava desempregado e aumentou principalmente o risco de ficar desempregado.
Antes da pandemia, ou seja, entre o início de 2018 e o primeiro trimestre de 2020, o risco de perder o emprego foi de 1,9%, valor que subiu para 2,5% nos três trimestres de 2020, correspondentes ao período da pandemia.
O risco de desemprego aumentou para todos os grupos analisados

O risco de desemprego subiu para todos os grupos demográficos (idade, sexo e nível de escolaridade) e setores de atividade, à exceção de quem trabalhava no setor ‘Eletricidade, gás, vapor, água e gestão de resíduos’. Para quem se encontrava desempregado, a probabilidade de encontrar emprego diminuiu de 29,2% antes da pandemia para 24,6% no pós-pandemia. Também neste caso, a queda na probabilidade de encontrar emprego foi generalizada, com exceção para quem trabalhava nos setores da ‘Construção’ e ‘Atividades de saúde humana e apoio social’ antes de cair no desemprego.
Mas o nível de escolaridade importa
Os trabalhadores com ensino superior apresentam sempre uma menor probabilidade de ficarem em situação de desemprego, quando comparados com indivíduos com a mesma idade, sexo e setor de atividade.
O risco de desemprego trimestral para os indivíduos diplomados foi o que menos cresceu no período da pandemia, passando de 1,4% para 1,9%. Já os trabalhadores menos escolarizados (com o ensino básico) permanecem como aqueles para quem o risco de desemprego é maior, não só nos trimestres anteriores à pandemia, como também nos três últimos trimestres de 2020, correspondentes ao período da pandemia.
Mesmo numa situação de desemprego, um diploma de ensino superior é uma vantagem, nomeadamente quando comparado com os que concluíram o ensino secundário. Apesar da sua situação ter piorado relativamente ao período anterior à pandemia (para valores próximos dos que têm apenas o ensino básico), a diferença de probabilidade de saírem da situação de desemprego dos diplomados com ensino superior aumentou face aos que detinham o ensino secundário.
Probabilidade de ficar desempregado e probabilidade de encontrar emprego antes e durante a pandemia por nível de escolaridade
Cada barra traduz a probabilidade resultante de um modelo de probabilidade linear para cada tipo de transição que inclui um conjunto de variáveis explicativas.
Fonte: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN Ver [anexo metodológico](https://joseneves.org/pt/estado-da-nacao-2021?path=estado-da-nao-fjn/estado-da-nao-2021-fjn/anexo-metodolgico) para mais informação.
Idade e setores de atividade específicos parecem ser os fatores determinantes para ficar desempregado
Os principais fatores que mais determinam o risco de perder o emprego são os mesmos antes e durante a pandemia: ser mais jovem (25-34 anos), ter concluído apenas o ensino básico e trabalhar em alguns setores de atividade específicos, nomeadamente ‘Alojamento, restauração e similares’, que se tornou o setor com risco mais elevado, substituindo o setor da ‘Agricultura, produção animal, caça, florestas, pescas e indústrias extrativas’. Este último mantém-se como um setor de elevado risco, à semelhança de outros como ‘Outras atividades de serviços’ e ‘Atividades administrativas e dos serviços de apoio’. Ter entre os 25 e os 34 anos é, durante a pandemia, o segundo maior fator de risco no que diz respeito a ficar desempregado.
Probabilidade de ficar desempregado antes e durante a pandemia por características demográficas, nível de escolaridade e setor de atividade
Cada valor traduz a probabilidade de ficar desempregado resultante de um modelo de probabilidade linear que inclui um conjunto de variáveis explicativas.
Fonte: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN Ver [anexo metodológico](https://joseneves.org/pt/estado-da-nacao-2021?path=estado-da-nao-fjn/estado-da-nao-2021-fjn/anexo-metodolgico/) para mais informação.
Para os desempregados, encontrar emprego depende em grande medida do setor de atividade
Há menos sobreposição antes e durante a pandemia nos fatores que mais influenciam a probabilidade de, estando desempregado, encontrar emprego. Em ambos os períodos, há fatores comuns como ter mais de 55 anos e ter trabalhado em setores de atividade específicos: ‘Atividades de informação e comunicação’, ‘Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares’, ‘Indústrias transformadoras’ e ‘Comércio a grosso e a retalho; reparação de veículos’.
Com a pandemia, surgem outros fatores mais fortemente associados à dificuldade de voltar a encontrar emprego, como ter o ensino secundário e ter trabalhado nos setores de ‘Atividades administrativas e dos serviços de apoio’ e ‘Transportes e armazenagem’.
Probabilidade de encontrar emprego antes e durante a pandemia por características demográficas e setores de atividade
Cada valor traduz a probabilidade de encontrar emprego resultante de um modelo de probabilidade linear que incluí um conjunto de variáveis explicativas.
Fonte: Inquérito ao Emprego (INE), FJN Ver [anexo metodológico](https://joseneves.org/pt/estado-da-nacao-2021?path=estado-da-nao-fjn/estado-da-nao-2021-fjn/anexo-metodolgico/) para mais informação.
Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode ser consultado aqui: