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O Algarve foi a região que perdeu mais emprego com a pandemia
Entre 2019 e 2020, o número de trabalhadores em empresas caiu 1% em Portugal. A queda mais acentuada registou-se no Algarve, -9,9%, em grande medida devido ao peso do setor do alojamento e restauração e dos contratos de trabalho temporários.
PUBLICADO A 20/10/2022
AUTOR FJN
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Ao longo da última década, a composição e volume do emprego têm vindo a sofrer modificações de relevo, nomeadamente com o aparecimento e crescimento de profissões com uma forte componente tecnológica. Esta tendência foi intensificada nos últimos anos, marcados pela crise pandémica e pela subsequente necessidade do mercado de trabalho se adaptar a um novo contexto laboral.
Neste insight, analisa-se a evolução do emprego em termos agregados, por região de Portugal e setores de atividade. Para isso, recorre-se aos dados dos Quadros de Pessoal que resulta de um inquérito anual obrigatório a todas as empresas do setor privado e do setor empresarial do estado com pelo um trabalhador por conta de outrem e que está a cargo do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (GEP/MTSSS). Os dados mais recentes, que reportam a situação das empresas em 2020, são comparados aos de 2019, antes da crise pandémica, e aos de 2010, no sentido de perceber a existência de tendências de relevo na composição do mercado de trabalho português.
Como tem evoluído o emprego em Portugal?
Entre 2010 e 2019, as pessoas ao serviço cresceram cerca de 11,5%, uma evolução que esconde duas tendências distintas: a queda do emprego entre 2010 e 2013 (-8,4%) seguida da recuperação do emprego que foi mais acentuada entre 2015 e 2019, com um aumento do pessoal ao serviço em cerca de 14,8%.
Em 2020, ano marcado pelo início da crise pandémica, a tendência de crescimento registada de 2013 em diante inverteu-se, com o número de trabalhadores a reduzir cerca de 1% entre 2019 e 2020. Não obstante, o número de pessoas ao serviço em 2020 foi superior a qualquer um dos anos do período de 2010 a 2018. Os dados fornecidos pelas empresas no inquérito reportam ao mês de outubro de cada ano, pelo que não é possível captar eventuais oscilações que possam ter ocorrido ao longo do ano. Por exemplo, é possível que durante os primeiros meses tenha havido uma queda superior no emprego e que depois tenha havido uma recuperação acentuada até outubro de 2020.
Evolução do número de trabalhadores entre 2010 e 2020 (2010 = 100)
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. Notas: São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais.
Em 2020, o emprego evoluiu de forma muito variada entre os diferentes setores de atividade
Apesar da queda de 1% do emprego agregado entre 2019 e 2020, a resposta do emprego nos diferentes setores de atividade foi muito díspar. Dos setores que representam pelo menos 1% do emprego nacional, os seguintes foram os que tiveram a maior queda de emprego, quer em termos relativos como absolutos:
_Alojamento e restauração: -13,6% _Atividades de aluguer, de emprego, agências e operadores turísticos: -12,4% A evolução do emprego no setor do ‘Alojamento e restauração’ é particularmente relevante uma vez que representava, em 2019, 9% do total do emprego do país. A queda de 13,6% traduz-se por isso na diminuição mais acentuada em termos absolutos do número de trabalhadores, com as empresas do setor de ‘Alojamento e restauração’ a reduzirem mais de 39.200 trabalhadores de 2019 para 2020.
Também existiu bastante variedade entre setores de atividade no que diz respeito à comparação entre a evolução do emprego entre 2019 e 2020 e a tendência que se verificou entre 2010 e 2019. Neste aspeto, é possível dividir os setores de atividade em quatro grupos distintos:
Primeiro, há setores em que o emprego aumentou em 2020, reforçando a tendência positiva entre 2010 e 2019. Este reforço foi mais significativo nos seguintes casos: _Serviços de informação e atividades informáticas _Fabrico de produtos farmacêuticos _Agricultura, pecuária e pesca _Atividades de saúde humana e apoio social _Fabrico de equipamentos informáticos, elétricos, eletrónicos e óticos _Atividades imobiliárias
Segundo, há setores em que o emprego também aumentou em 2020, invertendo a tendência negativa entre 2010 e 2019. São os casos de: _Atividades financeiras e de seguros _Construção e promoção imobiliária _Fabrico de mobiliário e de colchões
Terceiro, o emprego caiu em vários setores, reforçando a tendência negativa que já decorria na última década. São os casos de: _Fabrico de coque e de produtos petrolíferos refinados _Impressão e reprodução de suportes gravados _Indústrias extrativas
Finalmente, os setores mais penalizados pela especificidade da crise pandémica foram aqueles em que o emprego caiu em 2020, invertendo a tendência crescente que vinham a verificar nos anos anteriores. Os setores seguintes são os casos mais ilustrativos: _Alojamento e restauração _Atividades de aluguer, de emprego, agências e operadores turísticos _Reparação, manutenção e instalação de máquinas e equipamentos _Atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas _Fabrico de veículos automóveis e equipamento de transporte
Evolução do número de trabalhadores por setor de atividade, entre 2010 e 2019 e entre 2019 e 2020
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. Notas: São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais. No eixo vertical apresenta-se a taxa de variação média anual do emprego entre 2010 e 2019. No eixo horizontal apresenta-se a taxa de variação do emprego entre 2019 e 2020. A dimensão dos círculos representa o número de trabalhadores em cada setor de atividade em 2020.
O emprego caiu em todas as regiões, exceto no Alentejo
Apesar da queda de 1% do emprego agregado entre 2019 e 2020, o Alentejo registou um aumento considerável do número de trabalhadores no mesmo período (2,9%) e, na região Centro, o emprego manteve-se no mesmo nível nos dois anos.
Evolução do número de trabalhadores por região entre 2010 e 2020 (2010 = 100)
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. Notas: São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais.
Em todas as outras regiões de Portugal, a evolução do emprego em 2020 foi negativa, invertendo a tendência positiva que se vinha a verificar desde 2014. A queda foi mais contida na Área Metropolitana de Lisboa e no Norte: 1% e 0,5%, respetivamente. Nas ilhas, a queda foi maior: 4,4% nos Açores e 5,2% na Madeira.
A queda do emprego mais acentuada verificou-se no Algarve, a região que registou simultaneamente o maior crescimento do número de trabalhadores entre 2010 e 2019 (25,6%) e a maior redução do emprego entre 2020 e 2019 (-9,9%).
Variação do número de trabalhadores entre 2010-2019 e 2019-2020, total e por região
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. Notas: São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais.
O peso dos setores de atividade em cada região explica alguma variação do emprego
A evolução do emprego nas diferentes regiões não é alheia aos setores de atividade mais representativos da sua estrutura de emprego. Por exemplo, no Alentejo, a única região com mais trabalhadores em 2020 do que em 2019, os três setores de atividade com mais emprego em 2019, viram o emprego crescer com a pandemia: _Agricultura, pecuária e pesca _Atividades de saúde humana e apoio social _Comércio a retalho No Algarve e na Madeira, as regiões com maior perda de emprego, o setor do ‘Alojamento e restauração’ era o que tinha mais peso no emprego em 2019: 27% e 20%, respetivamente.
A prevalência de contratos temporários também importa
A evolução do emprego no ano de 2020 nas diferentes regiões de Portugal está fortemente correlacionada com a prevalência de contratos temporários (ou com termo) no ano anterior. Em média, quanto maior a percentagem de trabalhadores com este tipo de contratos de trabalho em 2019, maior foi a queda do emprego em 2020. É recorrente que em situações de crise, as empresas comecem por dispensar os trabalhadores sem vínculo permanente à empresa uma vez que são estes que tendem a ter menos antiguidade na empresa e competências específicas à empresa.
Esta situação é particularmente evidente no Algarve, que se destaca por ser simultaneamente a região com maior percentagem de trabalhadores com termo (53%) e onde a queda do emprego foi mais acentuado (-9,9%). Embora com valores mais ligeiros, a Madeira é a segunda região com maior prevalência de contratos com termo (39%) e registou a segunda maior queda no emprego em 2020 (-5,2%).
Evolução do número de trabalhadores entre 2019 e 2020 e prevalência de contratos a termo em 2019
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. Notas: São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais. O cálculo da percentagem de trabalhadores com contrato a termo teve em consideração apenas os trabalhadores com contrato a termo e sem termo.